sábado, 3 de setembro de 2011

Apenas mais um dia

Queria apenas mais um dia para poder dizer tudo o que não foi dito. Mas um dia não chegava. Então posso dizer que queria dois, mas não, ainda é pouco. Não é com um, nem dois, nem três dias que iria conseguir matar as saudades que tenho de ver o teu sorriso, o teu rosto, de ouvir as tuas palavras, de te ver caminhar até mim. Dos momentos que passamos juntos, não posso dizer que houve maus momentos porque não houve, até as vezes que ralhas-te comigo foram momentos únicos que nunca os esquecerei. Na altura não pensava assim mas hoje tudo é diferente, hoje pego nas lembranças, recordo-me delas e começo a rir ás gargalhadas. Não por estar maluca ou porque tiveram piada, mas sim por ser a única maneira que encontrei para não chorar em frente á mãe e magoá-la.
Quando te perdi tinha acabado de fazer os onze anos, e no meu aniversário ofereces-te me um peluche, ainda hoje o tenho e vou guardá-lo para sempre como se fosse um bocado de ti que ficou para olhar por todos nós.
Onze anos, qualquer criança era para ter uma vida normal, completa, feliz, acordar todos os dias com o céu azul, lindo e cheio de alegria. Mas aprendi que nem todos têm essa sorte.
Quando partis-te, parte de mim partio contigo. Nunca mais fui aquela menina sempre bem disposta, sempre com um sorriso na cara. Desde ai os meus dias nasceram sempre cinzentos, horríveis e tristes. Sim sorrio, sorrio para a vida todos os dias, não por estar feliz, mas na esperança que algum dia posso estar.
Tínhamos tanto sonhos para viver, tantas promessas para cumprir... e agora vou ter que lutar sozinha para que nada disso vá em vão.
Lembro-me que uma vez fizes-te me uma promessa linda, a mais bela de todas elas, e das únicas que não vais cumprir. A promessa era que quando me casasse irias entrar comigo na igreja ou onde quer que fosse, para me apoiar e desejar que eu seja feliz. E agora pai? Essa promessa foi em vão e ninguém pôde fazer nada para impedir isso.
Outra que também era importante para mim e mais uma que foi em vão. Não poderás estar ao me lado quando conseguir formar-me naquilo que quero. Mas apesar de não estares comigo em pessoa, estás sempre comigo tanto nos meus pensamentos como no meu coração, e eu sei que estás sempre, sempre ao meu lado a olhar por mim, a apoiar-me, a dar valor ao que faço e a corrigir-me no que faço mal.
Todas as pessoas dizem que tenho os teus olhos e é isso que me faz chorar, tenho algo teu mas não te tenho a ti.
Porque é que foste embora assim pai? Porquê? Ainda tinha tantas coisas para partilhar contigo, tantas coisas para te dizer, tantos sonhos, tantas ideias, tantos segredo... porquê? Eu era apenas uma criança, uma criança com uma vida enorme pela frente, mas sem ti é tudo tão mais difícil.
A verdade é que mal me lembro do teu rosto, do teu olhar, não me lembro da tua voz. E é isso que me magoa ainda mais, não me lembro correctamente do meu pai.
Mas de uma coisas eu não me esqueço, a tua maneira de ser, simples e única.
Não me importa o que as pessoas dizem sobre ti, tu para mim eras, és e sempre serás o meu herói, o meu PAI!
A última vez que te vi foi na igreja, no caixão. Até hoje tenho essa imagem na minha cabeça e sempre que penso em ti é a única coisa que me consigo lembrar melhor.
É por isso que escrevo, para não pensar tanto nesse dia e sim nas coisas boas que passamos juntos.
Prometi-te que nunca ia mudar, mas não posso cumprir essa promessa, tive que mudar e vou continuar a mudar sempre que pensar naquela imagem para me proteger a mim mesma.
Dava tudo para voltar a ter outra vez dez anos, mudava tanta coisa, dizia-te coisas que nunca te disse, simplesmente porque pensei que ia poder dizer agora e até mais tarde.
És o homem da minha vida. Já andei á procura do amor, mas foi nas pessoas erradas, o amor verdadeiro está em ti, tu sim, tenho a certeza que me amas tal como eu sou e apoias-me. Eu amo-te pai, amo-te e vou-te amar para sempre.
Sempre que falo em ti a alguém dizem sempre que compreendem como me sinto, que compreendem a minha dor, mas nem sequer a imaginam. Eu sei que não sou a única que já perdeu o pai, mas nenhuma dor é igual a outra.
Mas sabes uma coisa? Apesar de tudo eu sou a rapariga mais feliz do mundo, por ter um pai como tu, sim porque apesar de não estares aqui continuas a ser o meu querido pai.

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